Medo e ansiedade são reações humanas normais e até necessárias, pois são parte de um mecanismo do corpo para identificarmos possíveis situações de ameaças. Existe um complexo processo, que envolve funções cerebrais e hormonais, e possibilita uma reação rápida, podendo levar a um comportamento de luta ou de fuga quando estamos diante de uma situação de perigo real e iminente. Já um transtorno de ansiedade trata-se de uma reação patológica de medo diante de um perigo que não é real ou não tem a magnitude interpretada pela pessoa.
Com as crianças não é diferente. Elas tendem a ser naturalmente mais medrosas do que adolescentes e sentem especialmente medo de coisas simples, como de se afastar dos pais e conversar com pessoas estranhas.
No início da nossa vida, dado nosso alto grau de vulnerabilidade, dependência e imaturidade, apresentar reações de medo e ansiedade é muito mais frequente do que quando nos tornamos adultos – e, na medida em que desenvolvemos uma compreensão mais realista do mundo e dos reais perigos, passamos a temer apenas situações de real risco.
Mas por que nossos filhos estão tão ansiosos? As causas são várias. Vão desde a depressão e o sentimento de isolamento ao estresse causado pelas redes sociais e à pressão da família para ter sucesso acadêmico. As crianças de hoje estão crescendo com smartphones nas mãos. Elas são expostas desde pequenas à televisão, a conteúdo sexualizado, videogames violentos e à competição de parecer feliz sem esforço nas redes sociais. Elas não estão preparadas para isso e estão emocionalmente sobrecarregadas, cercadas por estímulos constantes dos quais não podem escapar. É como se eles estivessem sempre no palco e não pudessem sair.
Para entender quando o medo é característico de um transtorno de ansiedade em crianças é preciso considerar a faixa etária em que ela está, o seu tempo de duração e os prejuízos e sofrimento associados.
1 – Definir limites
Os pais podem ficar tão motivados para o sucesso dos filhos que, inadvertidamente, destroem a felicidade deles. Desejamos que eles tenham sucesso onde falhamos e que eles evitem nossos erros. Mas, ao comunicar esse desejo, fazemos parecer que o valor de nossos filhos está ligado ao sucesso deles. A mensagem que eles retiram disso é que, se atenderem às nossas expectativas, nós os amaremos. Mas, de fato, os pais precisam estabelecer limites saudáveis e não pressionar os filhos além do razoável. Também podemos enfatizar que as avaliações comparativas de autoestima – digamos entre eles e seus colegas de classe – estão fora dos limites de uma autoestima saudável. Como parte desse esforço, limitar a mídia social é útil.
2 – Valorizar o caráter
As pessoas devem ser valorizadas pelo seu caráter. Cada um de nós pode se orgulhar se for capaz de viver uma vida correta, modesta, boa e cercada por pessoas que amamos. Para muitos, porém, parece que as conquistas são muito mais importantes do que o caráter, seja nos estudos, na popularidade na escola, em muitas atividades extracurriculares e em ser bom nos esportes. Como pais, podemos mostrar aos nossos filhos que esses sucessos serão irrelevantes se o exterior não combinar com o interior. Uma pessoa de sucesso é um homem ou mulher de caráter.
3 – Não traçar expectativas inalcançáveis
Precisamos informar as crianças, de forma clara e simples, que elas não precisam ser as melhores em tudo. Na verdade, elas deveriam se acostumar com a ideia de que não podem ser o orador da turma, o atleta estrela, a personagem principal da peça da escola e a rainha do baile ao mesmo tempo. Os pequenos só precisam ser eles mesmos – bons em algumas coisas e não tão bons em outras. Ajuda se os pais puderem passar mais tempo com seus filhos simplesmente brincando. Dessa forma, os filhos percebem intuitivamente que seus pais não os estão vendo como um projeto a ser aperfeiçoado, mas sim como uma pessoa a ser amada.
4 – Incentivar a formação espiritual
As crianças precisam saber, de fato, como viver e por que viver. A ansiedade se instala quando a esperança diminui.
Enfim, lidar com a ansiedade é uma tarefa complicada. Não há solução rápida. Mas sabemos que definir limites e expectativas razoáveis ajuda. Também ajuda ter uma forte vida interior e espiritualidade.