Dizem que estamos vivendo na “era da distração”. O recurso mais valioso e cobiçado do mercado atualmente é a atenção dos consumidores.
Há anos as escolas comprovaram: cada vez mais as crianças têm dificuldade de concentração. Fenômeno semelhante também está ocorrendo no ambiente de trabalho: é cada vez mais difícil para as pessoas ler relatórios longos ou participar de reuniões, porque a capacidade de concentração das pessoas está ficando cada vez menor.
Especialistas em tecnologia dizem que a indústria digital está liderando um ataque à nossa atenção, sem se preocupar com as consequências. Um dos resultados mais claros, em termos gerais, é um aumento exponencial das distrações, que, muitas vezes, atrapalham o ritmo normal de nossas vidas.
Esta “era da distração” acaba interferindo no processo de aprendizado de nossos filhos. O impacto acontece até mesmo nos primeiros anos de escolaridade, especialmente se não estivermos garantindo que o acesso deles às telas seja devidamente regulamentado. A Sociedade Americana de Pediatria diz que, nos primeiros anos de vida, as crianças deveriam ter apenas exposição esporádica a telas em casa e na escola.
Em condições normais, as crianças absorvem a realidade ao seu redor e se concentram nela, maravilhadas com suas possibilidades. As crianças vão naturalmente voltar sua atenção para a manipulação de objetos variados com uma atitude quase contemplativa – é quando elas realmente aprendem.
Por isso, é importante criar um ambiente que possibilite esse estado de fluxo. Entre as condições necessárias, devemos fornecer o silêncio, um ambiente estimulante (sem escorregar para a superestimulação), liberdade ou calma – as crianças não devem se sentir apressadas. Nestas condições, o pensamento e a memória das crianças trabalham em conjunto.
Os pequenos, especialmente até os seis anos de idade, estão descobrindo o mundo, que constantemente os surpreende e os enche de admiração. Esse processo é um tesouro que não deve ser perdido!
No entanto, esse processo maravilhoso pode ser interrompido. Como? Especialmente quando a interação da criança com a realidade é acelerada através de imagens em telas, que apresentam uma versão editada, selecionada e fragmentada do mundo que nos cerca.
A TV e os vídeos no computador ou celular podem prejudicar nossa compreensão de que a vida real passa em um ritmo mais lento. Dessa forma, as crianças são progressivamente separadas da própria realidade para se concentrar em uma versão do mundo mais brilhante e mais divertida, porém bidimensional.
Ninguém está negando as imensas possibilidades da revolução digital. Mas temos que encontrar um equilíbrio delicado, que é difícil de alcançar em nosso mundo atual.
Nós, adultos, sabemos distinguir a ficção da realidade. As crianças, no entanto, estão apenas descobrindo o mundo e não devem ser confundidas, distraídas ou interrompidas. Nós devemos preservar essa pureza cognitiva tanto quanto possível.
Os pais devem ser modelos de uma vida de consciência, reflexão e foco. O tempo para as crianças explorarem a internet virá quando elas aprenderem a falar fluentemente, a escrever com uma mão bem treinada e a ler em uma casa bem abastecida de livros; quando elas tiverem tempo suficiente para aprender como aproveitar a vida real, fazer amigos de verdade, andar de bicicleta, praticar esportes e curtir a natureza.
É difícil especificar uma idade exata para isso. O que podemos afirmar é que quanto mais tempo as crianças passarem em uma escola e em uma casa onde são ensinadas a prestar atenção em suas vidas diárias, em um ambiente que promove silêncio, concentração, reflexão e leitura, mais elas serão preparadas para enfrentar a vida em um mundo que faz mais e mais para nos distrair.
A atenção é o novo objetivo da educação. E os adultos, pais e educadores, devem criar um mundo mais calmo para ajudar as crianças nesse caminho.
Aleteia