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Desde que a pandemia começou e as escolas foram fechadas, em março do ano passado, pediatras de todo o país começaram a avaliar o impacto do novo coronavírus nas crianças, de zero a 14 anos.  Com medo de a população infantil ser a grande transmissora da doença aos mais idosos, autoridades fecharam as escolas. Os pais e responsáveis, por sua vez, com receio de que seus filhos pudessem pegar o vírus e sofrer com a doença, os confinaram e os isolaram de praticamente todo o convívio social, fazendo com que seus meios de comunicação e interação se dessem, quase em sua totalidade, pela internet.

Exatamente um ano após de essa loucura iniciar, nós, pediatras, já temos evidências científicas suficientes para saber que as crianças não são “super transmissores”, e também têm menos chances de desenvolverem a doença. Em geral, quando são contaminadas pela covid-19, as crianças apresentam sintomas leves, como se fosse um resfriado comum, ou ficam assintomáticas. Nesses dozes meses de plantão em hospitais de São Paulo, percebemos que as crianças com coronavírus precisam de menos internação do que aquelas que chegam com outros tipos de problemas respiratórios, como influenza e o VSR – Vírus Sincicial Respiratório.

Em contrapartida, os problemas mentais causados pela pandemia na população infantil são gritantes. Depressão, ansiedade, pensamento suicida, alterações emocionais e de comportamento, obesidade, insegurança alimentar, atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e distúrbio do sono são alguns dos transtornos psiquiátricos provocados pelo confinamento. Podemos somar a esta lista distúrbios oftalmológicos por causa do uso excessivo de aparelhos eletrônicos  (como computador, celular, TV e tablets) e acidentes domésticos (como traumas e queimaduras). Isso sem contar os casos de violência doméstica, que se multiplicaram. Esses problemas gerados pela falta de convívio social, fundamental para a formação física e cognitiva da criança, pode demorar anos para serem revertidos em casos mais severos.

Preocupa ainda os prejuízos pedagógicos que as crianças da rede pública já estão tendo. Afinal, nem todas as famílias possuem dispositivos eletrônicos ou internet para que os filhos possam acompanhar devidamente as aulas online. Essa preocupação em “não aprender”, “ficar para trás” ou “perder  o ano” tem causado insegurança e ansiedade nas crianças, sobretudo, nos adolescentes.

Portanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria defende a reabertura das escolas de forma urgente e permanente, caso contrário, teremos questões de saúde pública graves a serem tratados a médio e longo prazos, como as doenças mentais desenvolvidas pelas crianças durante este período. Cabe ao poder público, escolas, educadores e comunidade científica começar a olhar para as crianças com a mesma seriedade que se olha aos idosos. Embora tenham pouca idade, os pequenos são os que mais sofrem com o isolamento social.

Estudos e experiências internacionais mostram que se todos os protocolos sanitários forem seguidos à risca, a chance de propagação do vírus dentro das escolas é menor do que comparado a outros setores da sociedade. Para saber se a escola está realmente preparada para as aulas presenciais, os pais e responsáveis devem analisar e fiscalizar o protocolo de segurança proposto pela instituição de ensino. São seis medidas básicas:

1 – Itens essenciais para higiene pessoal. De acordo com decretos estaduais, é obrigatório as escolas disponibilizarem álcool em gel dentro das salas e nas áreas comuns. Os pais também devem ser orientados a enviar trocas de máscaras aos alunos.

2- O uso de máscara em todos os ambientes. A máscara é um item indispensável durante a pandemia, e seu uso também é obrigatório nas aulas presenciais. Para que a eficiência da máscara não seja comprometida, o ideal é trocá-la a cada duas horas ou quando estiver úmida ou rasgada. O recomendado são 4 máscaras por período.

3 – Distanciamento social. O distanciamento deve ser mantido dentro das salas de aula para evitar a propagação da covid-19. A distância ideal é que as salas recebam um número reduzido de alunos e tenham carteiras demarcadas com a distância recomendada entre elas, de pelo menos 1 metro e meio.

4 – Refeições e lanches seguros. A escola pode fazer um rodízio na área de alimentação, seja pátio ou refeitório, limitando o número de alunos que irão lanchar juntos, já que neste momento todos tiram suas máscaras. Outra opção é que as crianças possam lanchar em suas carteiras, individualmente. Ao finalizar a refeição, as crianças devem lavar as mãos e imediatamente colocar uma máscara limpa.

5 – Atenção especial para cada faixa etária. A escola deve ficar atenta à aglomeração de alunos, mesmo com “espaço sobrando” no local. Os adolescentes, em especial, querem ficar juntos para conversar. É importante que a escola oriente os estudantes a manterem o distanciamento, mas nunca com punição. Sempre com acolhimento. Este momento está sendo difícil para todos.

6 – Alunos com sintomas de covid-19. Para reduzir a contaminação, é necessário a colaboração das famílias. Não envie para a escola a criança que apresentar febre, diarreia, vômito, coriza/congestão nasal, tosse, dor de garganta, dor no corpo, perda de olfato ou paladar. Qualquer um desses sintomas pode indicar coronavírus. Não é necessário ter febre ou sintomas intensos. A criança pode retornar às suas atividades presenciais após ter cumprido 10 dias de isolamento a partir do início dos sintomas, ou depois do teste de covid-19 ter dado negativo (realizado a partir do terceiro dia depois de os sintomas aparecerem). A criança deve estar sem febre ou problemas respiratórios há pelo menos 24 horas. Se a criança tiver contato com alguma pessoa diagnosticada com covid-19 também deve se manter em casa. Caso a criança teste positivo para a doença, ela deve permanecer em quarentena por um período de 14 dias, e a escola deve ser avisada o quanto antes.

É recomendado que toda criança que conviva com alguém que tenha fator(es) de risco para o desenvolvimento de quadros mais severos de covid-19, como problemas respiratórios, cardíacos, diabetes, etc., tenha a opção de ensino remoto integral. Além disso, TODOS (alunos, familiares, professores e funcionários) devem evitar festas e aglomerações fora do ambiente escolar. É só com a consciência e responsabilidade de cada um que vamos vencer este vírus que assola o país, e voltarmos para a vida que costumávamos chamar de “normal”.

Dr. Carlos
Dr. Carlos
Médico Pediatra formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Fez Residência Médica em Pediatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira e Paulista de Pediatria. Faz parte do Corpo Clínico dos Hospitais Albert Einstein, Sírio Libanês e Santa Catarina.